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Punhal de Prata

Alceu Valença

Eu sempre andei descalço
No encalço dessa menina
E a sola dos meus passos
Tem a pele muito fina

Eu sempre olhei nos olhos
Bem no fundo, nas retinas
E a menina dos olhos
Me mata, me alucina

Eu sempre andei sozinho
A mão esquerda vazia
A mão direita fechada
Sem medo por garantia

De encontrar quem me ama
Na hora que me odeia
Com esse punhal de prata
Brilhando na lua cheia

Mas eu não quero viver cruzando os braços
Nem ser cristo na tela de um cinema
Nem ser pasto de feras numa arena
Nesse circo eu prefiro ser palhaço

Eu só quero uma cama pro cansaço
Não me causa temor o pesadelo
Tenho mapas e rotas e novelos
Para sair de profundos labirintos
Sou de ferro, de aço de granito
Grito aflito na rua do sossego

Sossego!

Mas na verdade é mentira
Eu sou o resto
Sou a sobra num copo, Sou subeijo
Sou migalhas na mesa
Sou desprezo
Eu não quero estar longe
Nem estou perto

Eu só quero dormir de olho aberto
Minha casa é um cofre sem segredo
O meu quarto é sem portas, tenho medo
Quando falo desdigo, calo e minto
Sou de ferro, aço e de granito
Grito aflito na rua do sossego

E o que prende demais minha atenção
É um touro raivoso na arena
Uma pulga do jeito que é pequena
Dominar a bravura de um leão

Na picada ele muda a posição
Pra coçar se depressa, com certeza
Não se serve da unha e da presa
Se levanta da cama e fica em pé
Tudo isso provando como é poderosa e suprema a natureza

E eu desconfio dos cabelos longos de sua cabeça
Se você deixou crescer de um ano pra cá
Eu desconfio no sentido 'Stricto'
Eu desconfio no sentido 'Lato'
Eu desconfio dos cabelos logos e desconfio do diabo a quatro
Do diabo a quatro
Do diabo a quatro

Composição: Alçeu Valença





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