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Biografia de Ramirez

No mundo do rock rola uma clara divisão: existe quem tem e quem não tem. Quem tenta e não consegue, e quem manda bem. O quarteto carioca (com raízes em Caxambu, MG) Ramirez é dos que têm e mandam bem.

Estamos falando, claro, de melodias, sucessões de sons capazes de pentear os cílios das células auditivas humanas e, com doce persuasão, viciar corpos e almas. Thiago Pedalino (voz e guitarra), Frank Dias (baixo e voz), Pedro Curvello (guitarra e voz) e Matheus de Giacomo (bateria) chegam ao segundo disco, Desembarque (selo Corredor 5) com um bom carregamento delas, belas melodias envelopando um novo lote de canções originais.

Das onze faixas, só uma é cover. E das mais bem sacadas: “Novos Tempos”, parceria de Paulo Coelho com Fábio Jr pescada de um disco de 1976. No ano do levante punk inglês, a duplinha rebelde aliciava cabeludos brasucas na base do “Ei, você dos velhos tempos/ Não tente entender o que estamos fazendo aqui (…) A gente está fazendo o que você um dia quis/ Você quis mudar/ Mas nunca tentou/ Não queira impedir aquilo que eu sou”. Mais de trinta anos depois, a pseudoingenuidade dos malandros Paulo Coelho e Fábio Jr. se encaixa elegantemente no corte dos ternos mod do Ramirez.

As reverberações sessentistas e jovem-guardistas, citadas em nove entre dez resenhas sobre a banda, são uma realidade inegável. Não por acaso, a fofa balada “Sophia”, com “ph” e tudo, não pede licença para rimar “por favor” com “primeiro amor”. Mas as raízes de todas as influências power pop, para lá dos contemporâneos Ash, Fountains of Wayne ou Teenage Fanclub, parecem apontar para certos rapazes de Liverpool. O Ramirez, sem exagero, é um quarteto beatlemaníaco de pai e mãe. Pode perguntar ao Thiago, co-autor da maioria das músicas, em parceria com o produtor e “guru” Marcos Sketch.

Alheio ao lado novidadeiro do pop, o grupo avança sem se desviar dos caminhos de seu inspirado disco de estréia, Ramirez (2005) que rendeu o hit “Matriz” (emplacado na trilha de Malhação) e ótima reputação no universo indie nacional. Desembarque também se apóia em suaves distorções para destilar romantismo naïf com boa verve. “O Melhor do Que Há Pra Nós”, “Desenhos” e “Desfile de Motivos” são exemplos bem acabados de canção nesses moldes.